Por Mariana Mello
Hoje cedo meu filho Francisco puxou minha orelha. Eu estava dirigindo para levá-lo à escola e precisei reduzir a velocidade em uma faixa de pedestres. Uma mulher idosa atravessava a rua lentamente, carregando duas sacolas. Por eu estar atrasada, devo ter feito uma expressão que ele avaliou como um sinal de irritação.
– Mamãe, você precisa ter paciência com as pessoas mais velhas. Pode ser que elas estejam mais cansadas, com menos energia e por isso fazem as coisas um pouco devagar. Precisa respeitar, mamãe.”
Achei bonito levar uma bronca do meu filho a respeito de um assunto que estudo: a cultura de envelhecimento. Ao mesmo tempo, fiquei orgulhosa de vê-lo repetir algo que falo o tempo todo, sempre que tenho a oportunidade: devemos olhar de maneira empática para pessoas que estão no mundo há mais tempo que nós, sem reduzi-las a fragilidades ou dependências. Aos 8 anos, Francisco já aprendeu.
Esse rápido diálogo me deu ainda mais certeza sobre um trabalho que eu adoraria fazer: falar sobre maturidade em escolas, para crianças e adolescentes. Trazer o assunto para as salas de aula, começando desde cedo. Informar e sensibilizar crianças brasileiras sobre esse fenômeno global do aumento da expectativa de vida, o significado dessa conquista para a humanidade, os nomes e termos que deveriam ser evitados a fim de eliminar estereótipos e preconceitos. Mais ou menos como tem sido feito com outros temas, como educação financeira, educação nutricional e empreendedorismo. As crianças aprendem tão rápido!
Por enquanto, infelizmente a ideia que se tem de velhice ainda é negativa no senso comum. Jovens e adultos acham que envelhecer é ruim, que nessa fase da vida só haverá perdas e doenças e que pessoas idosas estão condenadas à solidão. É verdade que as histórias tristes existem, mas não são as únicas. Há tantos exemplos positivos e bem-sucedidos de maturidade, tantas histórias boas de serem contadas! E o mais importante: a velhice é uma construção que se faz agora. Se meu filho assimilou algumas coisas só de ouvir minhas conversas, imagina a potência disso em uma escola, com recursos pedagógicos dentro de um projeto de ensino?