Por Yumara Vasconcelos
Nesse carnaval vi muitas mulheres maduras assumindo seus grisalhos e corpos envelhecidos sem olhar para os lados, apenas celebrando o momento. Pois é, o movimento de olhar para os lados e acessar o preconceito de quem nos assiste é um desafio à nossa consciência de liberdade.
Deixe-nos envelhecer em paz!
O preconceito que é dirigido (e atinge) às pessoas mais velhas opera como uma prisão, que as encarcera em um “lugar” que não compreende as suas escolhas e expectativas, mais que isso, que não tem correspondência com o presente.
Repercute como um decreto de interdição em diferentes áreas de nossa vida. Esses estímulos opressivos impõem modos de se vestir, cores para o cabelo, tratamentos estéticos, ritmos, espaços, afetos, relacionamentos e atividades. É como se ao envelhecer, a pessoa perdesse gradativamente o direito sobre o próprio corpo e vida.
O etarismo não é desumanizante apenas porque nos maltrata e causa sofrimento. É desumanizante também porque nos transforma em objetos.
O preconceito pesa mais sobre o corpo da mulher. Os homens grisalhos são, muitas vezes, chamados de “charmosos”, já as mulheres grisalhas, de “descuidadas”.
A mulher é induzida a lutar contra a transformação de seu corpo, atitude que tem como agravante o fato de que a idade social que separa “o velho do novo” é cada vez menor (envelhecimento socialmente acelerado).
Seu corpo, seu inimigo…
Pois é, o padrão de beleza é construído socialmente e apropriado pelo mercado que se beneficia dessa estética que artificializa a aparência (indústria antienvelhecimento).
Tenho escutado mulheres afirmarem:
”Eu somente quero envelhecer dignamente.”
Bem, a minha afirmação é: Para além de um bônus da vida, envelhecer é uma experiência digna!
Então, ver mulheres assumindo a sua maturidade, os seus movimentos e corpos envelhecidos foi encantador, um suco nutritivo de liberdade (para ser e existir).
Não assuma o fardo do preconceito do outro!
Se o preconceito é dele ou dela, ele ou ela que conviva infeliz com o seu desconforto, porque não deixaremos de existir.
Enquanto eles/elas se envenenam com o próprio preconceito, NÓS seguiremos em movimento e em paz com o nosso corpo.
Não deixaremos de viver e aproveitar os ganhos que somente a maturidade patrocina.