O Carnaval das grisalhas: etarismo não!

por | 18 de março de 2025 | Planos de Vida, Vida e Carreira

Por Yumara Vasconcelos 

Nesse carnaval vi muitas mulheres maduras assumindo seus grisalhos e corpos envelhecidos sem olhar para os lados, apenas celebrando o momento.  Pois é, o movimento de olhar para os lados e acessar o preconceito de quem nos assiste é um desafio à nossa consciência de liberdade. 

Deixe-nos envelhecer em paz! 

O preconceito que é dirigido (e atinge) às pessoas mais velhas opera como uma prisão, que as encarcera em um “lugar” que não compreende as suas escolhas e expectativas, mais que isso, que não tem correspondência com o  presente. 

 Repercute como um decreto de interdição em diferentes áreas de nossa vida. Esses estímulos opressivos impõem modos de se vestir, cores para o cabelo, tratamentos estéticos, ritmos, espaços, afetos, relacionamentos e atividades.  É como se ao envelhecer, a pessoa perdesse gradativamente  o direito sobre o próprio corpo e vida. 

O etarismo não é desumanizante apenas  porque nos maltrata e causa sofrimento. É desumanizante também porque nos transforma em objetos.  

O preconceito pesa mais sobre o corpo da mulher. Os homens grisalhos são, muitas vezes, chamados de “charmosos”, já as mulheres grisalhas, de “descuidadas”.  

A mulher é induzida a lutar contra a transformação de seu corpo, atitude que tem como agravante o fato de que a idade social que separa “o velho do novo” é cada vez menor (envelhecimento socialmente acelerado). 

Seu corpo, seu inimigo… 

Pois é, o padrão de beleza é construído socialmente e apropriado pelo mercado que se beneficia dessa estética que artificializa a aparência (indústria antienvelhecimento). 

Tenho escutado mulheres afirmarem:  

 ”Eu somente quero envelhecer dignamente.” 

Bem, a minha afirmação é: Para além de um bônus da vida, envelhecer é uma experiência digna! 

Então, ver mulheres assumindo a sua maturidade, os seus movimentos e corpos envelhecidos foi encantador, um suco nutritivo de liberdade (para ser e existir). 

Não assuma o fardo do preconceito do outro! 

Se o preconceito é dele ou dela, ele ou ela que conviva infeliz com o seu desconforto, porque não deixaremos de existir.  

Enquanto eles/elas se envenenam com o próprio preconceito, NÓS seguiremos em movimento e em paz com o nosso corpo. 

Não deixaremos de viver e aproveitar os ganhos que somente a maturidade patrocina.  

Yumara Lúcia Vasconcelos é Membra da Comissão de Direitos humanos Don Hélder Câmara, pós doutora em Direitos humanos (UFPE-Universidade Federal de Pernambuco), doutora em Administração (UFBA-Universidade Federal da Bahia), mestre em Ciências Contábeis (Fundação Visconde de Cairu), bacharela em Direito e Ciências Contábeis. Especialidades na área jurídica: Direito civil e em Filosofia e Teoria do Direito. Escritora, docente e pesquisadora da UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco, professora permanente do PROFIAP (mestrado profissional em Administração Pública) /UFRPE e do PPGTEG/UFRPE – Programa de pós-graduação em Tecnologia e gestão em educação a distância.