Por Monique Betenheuser
Ana Claudia Quintana Arantes é geriatra e especialista em cuidados paliativos, tendo se tornado uma referência no ativismo da cultura do cuidado, visando estimular a sociedade na construção de relações afetivas e tomada de decisões conscientes para resolução de conflitos.
Na obra “Pra vida toda valer a pena viver: Pequeno manual para envelhecer com alegria”, Ana Claudia inicia com uma metáfora correlacionando uma viagem para o deserto com o envelhecimento. Duas pessoas fazem um combinado de que daqui a 40 anos irão viajar para o deserto, apenas com passagem de ida, sem possibilidade de voltar atrás. Chegando lá, um se queixa do calor intenso durante o dia no deserto, e do frio intenso durante a noite, além das dificuldades para conseguir se alimentar e se manter saudável. O outro questiona o motivo da pessoa não ter se preparado para isso, já que sabia que seria assim, desde quando foi feito o combinado anos atrás, tendo tido bastante tempo para se preparar.
Essa metáfora traz uma reflexão importante sobre o processo de envelhecimento: a velhice é uma viagem sem volta, que fazemos aos poucos, no decorrer da vida. Sabendo disso, temos a oportunidade de nos preparar com tranquilidade, tornando a trajetória prazerosa. Com a rotina agitada, acabamos esquecendo que viver é envelhecer aos poucos, dia após dia. Sabemos que o envelhecimento é inevitável, mas muitas vezes não nos preparamos para isso.
Para trabalhar essas questões, a médica criou o livro em forma de manual, visando orientar para tornar nosso corpo habitável pelo maior tempo possível, envelhecendo bem. As orientações envolvem a importância de manter a prática de atividades físicas, ter alimentação saudável, a manutenção de vínculos e o fortalecimento de laços sociais. Também é ressaltada a importância de estimular o cérebro, tendo contato com novas aprendizagens.
A autora pontua questões importantes envolvendo as perdas, que envolve tanto as pessoas importantes que se vão, como também a diminuição da independência e vitalidade. Assim, destaca-se a importância de lidar com os lutos cotidianos, sem deixar de lembrar que a vida vale a pena ser vivida.