Viver com arte: criatividade na terceira idade

por | 31 de outubro de 2024 | Bem-estar, Trabalho Multiprofissional

Por Ana Pupo 

Arte é meio de expressão, comunicação, diálogo, e também pode ser um processo de reflexão interior. Mas os conceitos vão além disso, quando pensamos no propósito dos trabalhos criativos com pessoas idosas.

Estar em ação, produzindo coisas, é reflexo de uma mente ativa, é colocar os conhecimentos em jogo e estar disposto a se arriscar. Quando propomos uma atividade artística há alguém, seja criança ou idoso, é isso que estamos buscando, uma mente que resgate as memórias, reutilize os conhecimentos, e una as habilidades, a fim de criar algo individual.

A criação é um processo que envolve quem somos, quando compomos as cores de uma pintura, ou os traços de um bordado, ou até mesmo escolhemos as estampas nos tecidos, todas essas escolhas dizem algo sobre nós, são nossas decisões, unidas as nossas preferências pessoais que exibem parte da nossa trajetória de vida.

Podemos até pensar que arte é um conceito que está distante, que é algo exclusivo daquilo que está no museu, ou peças assinadas por nomes reconhecidos, mas a verdade é que a arte pode ser uma parte de nós, algo que conseguimos através de nossas mãos, materializar no mundo, e que toda vez que olhamos, isso nos evoca sentimentos.

Arte vai além de beleza, talvez a beleza seja a característica menos importante na arte, pois a beleza nos traz somente apreciação, diferente daquilo que é significativo, algo pode não ser “bonito” mas ser significante para nós, nos trazer lembranças, e nos emocionar. Como a primeira pintura de uma criança, não é perfeita, nem linear, e às vezes um puro abstrato, mas quando observamos, sabemos o quanto aquilo foi importante, foi marcante, e foi sincero, e isso é o valor e a importância que a arte tem.

Quando copiamos, estamos deixando de lado parte de nós, rejeitando nossas escolhas sinceras e buscando uma beleza sem um significado. Criar é uma atividade mais difícil do que parece, e quando vamos atrás da cópia, na verdade estamos fugindo de nós, pois sentimos que essa “coisa” que vamos criar sozinhos, pode não ser suficiente.

Quando um idoso cria algo, seja um bordado, uma pintura, um crochê ou tricô, isso diz muito sobre quem ele é. Praticar atividades artísticas é deixar parte de si mesmo naquilo que foi feito, é mostrar seus gostos através das escolhas que foram feitas, mostrar seus conhecimentos, que muitas vezes foram sendo aprendidos durante anos, para executar uma produção que é individual, e que tem significados.

A criação artística é um processo de trocas, e pode ser muito promissor quando a atividade permite que o participante venha e traga seus conhecimentos, e também leve consigo um pouco do conhecimento do outro. Essa troca torna o ato de fazer, muito mais prazeroso, mais leve, e produtivo. Pois produzir arte também pode ser um momento de nos utilizarmos daquilo que aprendemos, para representar aquilo que desejamos.

Fomentar para que pessoas idosas participem de atividades criativas e artísticas, é permitir que explorem suas vivências, que se valorizem e se vejam como importantes dentro desse espaço. Criar é um ato humano, algo que só nós podemos fazer, e devemos aproveitar o máximo dessa capacidade em todas as fases da vida.

 

Mestranda em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual de Belas Artes, Pós-graduanda em Antropologia Cultural pela PUCPR, licenciada em Artes Visuais pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, membro do grupo de pesquisa CineCriare. Realiza trabalhos como Diretora de Arte no âmbito do cinema, participou de premiações e exposições representando suas produções. Utiliza-se de diversos materiais como suporte artístico, se apropriando principalmente da pintura, fotografia, desenho e instalação. Voluntaria em programas de assistência a minorias.