Em entrevista à Rádio Trans Mundial, coordenadora do CEDIVIDA sobre a pessoa idosa e o trabalho realizado pelo programa

por | 20 de fevereiro de 2024 | Destaque, Trabalho Multiprofissional

Na última sexta-feira (16), a coordenadora do CEDIVIDA, Idalina Cunha, participou do programa “Fique por Dentro” da Rádio Trans Mundial. A pauta central de sua participação foi o abandono da pessoa idosa, que segundo dados, alcançou a marca de 22.636 registros de casos em 2023. Em 2022, o número de registros era de 11.359 casos. Outros assuntos foram comentados como a violência, os direitos e a longevidade da pessoa idosa.  

1) Quais são os principais desafios enfrentados pelos idosos, em relação aos cuidados e ao abandono?  

Quando vemos a questão do abandono, nós temos uma preocupação contínua. Acompanhamos nossos participantes de perto e procuramos entender qual a rede de apoio que essas pessoas têm. Quando falamos em rede de apoio, estamos falando tanto do vínculo familiar que é insubstituível. Mas o quanto que essa pessoa idosa pode contar com o poder público? Com os serviços que ela tem acesso? Então o CEDIVIDA tem a missão de apoiar os nossos participantes, de apoiar o nosso público-alvo a entender o que eles têm de direito, a ajudá-los neste processo de reconhecimento e de acompanhá-los. 

2) Por que há aumento no número de idosos? O que justifica isso? 

Em torno de 20, 25 anos atrás, vivíamos em uma realidade de famílias com mais membros. Hoje, essa condição tem mudado. Hoje, os casais estão optando em terem um só filho, ou às vezes nem pensam em terem filhos.
É claro que também atrelado a isso, tivemos um avanço significativo da medicina. E esse avanço da medicina, trouxe uma condição de acesso à saúde, que faz com que a longevidade fique evidenciada. Aquele indivíduo que procura uma boa alimentação, pratica uma atividade física, faz um acompanhamento regular com seu médico de confiança, ele tende a ter uma qualidade de vida melhor. Com isso, consegue ter a longevidade. Isso vai ser uma crescente. A temática da pessoa idosa, vai estar em uma crescente em rodas de conversa. É o que podemos fazer para instigar ainda mais essas pessoas idosas, e que o estigma do “vovôzinho” e da “vovózinha” caia por terra. 

3) Quais são os sinais de alerta que indicam possíveis casos de abandono?  

No CEDIVIDA, nós temos uma equipe multidisciplinar que está preparada para identificar esses sinais. Nós temos uma psicóloga, educadores sociais e uma pedagoga. A porta de entrada aqui no CEDIVIDA é uma entrevista-diagnóstica. Essa entrevista é muito importante para entender qual é o momento de vida dessa pessoa que está nos procurando. Você vai conseguir detectar as coisas nas entrelinhas. Na medida que você vai criando um terreno de confiança com essa pessoa, ela consegue se abrir e falar um pouco mais, e vamos entendendo o que ela está vivenciando naquele momento.  

4) Você acredita que quanto mais a pessoa se movimenta, quanto mais ela é ativa, isso ajuda a que ela tenha um envelhecimento com qualidade de vida?  

Indiscutivelmente, a pessoa idosa que procura estar ativa, fazendo um exercício físico, ela tem uma tendência de estar com a mente dela ativa. E com isso, ela trabalha toda a parte cognitiva. Isso é algo que aqui no CEDIVIDA nós prezamos muito, de oferecer para eles atividades que os coloquem em movimento. Isso faz com que a mente esteja ativa e isso traz uma longevidade para ela (a pessoa idosa).
5) Sobre a questão dos mal tratos com os idosos, como a gente pode ajudar em casos, como de vizinhos, por exemplo?  

Quando falamos de violência para a pessoa idosa, isso talvez não esteja tão fortemente evidenciado, porque pressupõe que é uma pessoa adulta e a gente entende que, em algum momento, ela tem autonomia e independência para tratar do que está acontecendo com ela. Trazendo para a realidade da pessoa idosa, é importante levarmos em consideração que, eles pensam na questão de violência física. Isso fica mais evidenciado porque ela já tem uma certa fragilidade no corpo, e que qualquer situação que aconteça envolvendo violência física, vai ser mais aparente. Para a pessoa idosa, a violência psicológica ainda é muito forte porque existe o estigma de toda sociedade de pensar “fulano tá velho”. Isso é algo que vamos ter que desmistificar muito. Vamos ver uma população idosa muito ativa, muito presente e disponível a fazer novas coisas. Isso é um movimento que eu acho que vai acontecer.
A outra violência é financeira e material. A financeira é aquela violência da pessoa já estar aposentada, recebendo seu apoio do Governo e os filhos pegarem esse dinheiro. A violência material, estamos vendo muito aqui no CEDIVIDA. Por exemplo, a mãe e o pai têm um imóvel, e durante a vida acontece aquela briga entre filhos para ter o direito a aquilo.
O estado do Paraná é muito forte no quesito amigo da pessoa idosa. Isso amarra a relação com o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e FAS (Fundação de Ação Social) que existem em todas as cidades. Por exemplo, se no CEDIVIDA identificamos um idoso que está sofrendo violência e não temos como avançar, porque é uma pessoa que não possui a primeira rede de apoio que é a família, entramos em contato com o CRAS.          
A recomendação que passamos, é que o vizinho fique atento e procure essa instituição de assistência social mais próxima a sua residência.  

6) Ouvimos falar que filhos colocam pais e mães em casas de repouso. Em que casos isso é indicado não sendo considerado como abandono?  

O nome oficial que damos às casas de repouso hoje, é Instituição de Longa Permanência. É realmente um espaço voltado para a pessoa idosa que não tem mais autonomia. Uma pessoa idosa tem que ser autônoma o bastante para fazer o que precisa fazer sozinha e tem que ter a independência. O que acaba acontecendo em muitas vezes, é que ela não quer deixar de morar sozinha. Quando a pessoa idosa acaba indo para uma instituição de longa permanência, existem as instituições para os casos em que a pessoa está acamada e a família não consegue pagar por um cuidador. Existem também situações de que ela não tem a rede de apoio básica, e o Estado a direciona para um local adequado.  

Você pode ouvir o conteúdo em áudio completo da entrevista clicando aqui.