C​onvívio intergeracional no ambiente de trabalho

por | 18 de novembro de 2024 | Carreira Sênior, Vida e Carreira

Por Yumara Vasconcelos 

Sempre me perguntam sobre os benefícios de se contratar profissionais mais velhos, carinhosamente chamados de “geração prateada”. Respondo sem pestanejar que consigo vislumbrar, para além da repercussão social, uma potência intrínseca a essas contratações (tanto sob a perspectiva de mercado, como das relações e, por consequência, da qualidade do meio ambiente de trabalho). 

Experiência e conhecimento

Os profissionais mais velhos, em geral, são mais experientes, afinal, acumulam conhecimentos e vivências potencialmente significativas para o negócio. Assim, podem tornar-se um suporte importante para o amadurecimento profissional daqueles mais jovens. Não subestime a potência das trocas no âmbito das equipes intergeracionais. 

Qualidade das relações (inclusive com clientes) – maturidade emocional 

Sobre a qualidade das relações interpessoais no ambiente de trabalho, escutei alguns relatos interessantes, ressaltando o quão a convivência intergeracional é positiva e produtiva sob diversas perspectivas (não apenas aquela de mercado): “A convivência com pessoas mais maduras faz bem.” Considerando que a nossa sociedade, infelizmente, é marcadamente de mentalidade etarista e que o mundo do trabalho é ultracompetitivo, essa afirmação me deu esperança. Entendi que não se trata meramente da convivência profissional mas, da boa convivência entre as pessoas. Pois é, precisamos resgatar os laços da afetividade no ambiente de trabalho. Fazê-lo não o torna menos produtivo, apenas mais confortável psicologicamente.  

A produtividade sem humanidade é maquínica e frágil, diria até que insustentável. Uma das pessoas com quem conversei informalmente relatou que o ambiente de trabalho intergeracional é mais fraterno e cooperativo.  

A ausência de pertencimento e do senso de comunidade tem relação com o paradigma de profissionalismo que construímos ao longo dos anos, ao ponto de nos tornamos verdadeiras personagens corporativas, com respostas automáticas esperadas. É nesse passo que as relações ficam cada vez mais artificializadas no trato.  

Um amigo, contrário ao meu ponto de vista, retrucou “Ah! Não podemos expressar tudo no ambiente de trabalho”, ao que respondi: A questão não é o “lugar” mas, os limites interpessoais. O respeito advém do reconhecimento desses limites. A liberdade é relativa porque não existimos sozinhos. O local, nesse contexto de análise, tem importância secundária. Precisamos respeitar os espaços, as identidades, os afetos, os compromissos firmados, as instituições e as identificações em todos os lugares indistintamente.  

Um segundo relato enalteceu o atendimento empático, notadamente mais acolhedor, realizado pelos profissionais acima de 50 anos.  

Pessoas mais velhas tendem a lidar melhor com os contratempos da vida, ativo fundamental para gerenciar conflitos no ambiente de trabalho. 

Diversidade de perspectivas  

A convivência urbana e respeitosa entre gerações traz para o campo decisório argumentos da diversidade social, o que repercute nas criações, nos produtos, nas ‘entregas’, especialmente no atendimento. 

As gerações não são antagônicas, porque entregam visões, expectativas e experiências diferentes. As diferenças são um veio de inclusão e criatividade, promovendo a diversidade de pensamento. Naturalmente, equipes multigeracionais requerem uma liderança inclusiva e esse é o desafio: desenvolver um estilo de liderança baseado nas pessoas, ainda que com propósitos corporativos. 

Motivação e comprometimento

Profissionais mais velhos tendem a ser mais comprometidos porque desenvolveram uma relação de afeto estável com o trabalho e com as pessoas que compõem a organização, o que opera como um ingrediente motivacional. Adaptam-se com facilidade à diferentes realidades e contextos.  

Para que essa “tendência” descrita tornar-se “fato” é preciso criar um ambiente de trabalho saudável, humanizado e confortável psicologicamente. 

Yumara Lúcia Vasconcelos é pós doutora em Direitos humanos (UFPE- Universidade Federal de Pernambuco), doutora em Administração (UFBA- Universidade Federal da Bahia), mestre em Ciências Contábeis (Fundação Visconde de Cairu), bacharela em Direito e Ciências Contábeis. Especialidades na área jurídica: Direito civil e em Filosofia e Teoria do Direito.