Por Yumara Vasconcelos
Decidi usar esse espaço de coluna para compartilhar, além de artigos de opinião, comentários acerca dos livros que leio e utilizo em minhas pesquisas sobre etarismo. Compartilharei impressões e marcações de trechos que avaliei como interessantes.
Bem, o livro da vez é “A coragem de envelhecer: a ciência de viver mais e melhor” de autoria da Dra. Becca Levy.
Mas, quem é a Dra. Becca Levy? Apresentarei o resumo curricular que consta na obra.
“Becca Levy é pós-doutora em medicina social pela Universidade de Harvard e doutora em psicologia do envelhecimento por Yale, onde é professora na Escola de Saúde Pública. Considerada a mais renomada especialista em psicologia do envelhecimento da atualidade, seus artigos têm sido publicados em veículos como The New York Times, The Wall Street Journal, Times, Das Spiegel e The Guardian. A coragem de envelhecer é seu primeiro livro.”
A autora inicia a obra descrevendo o modus como as pessoas lidam com o envelhecimento no Japão. Segundo a autora, a expectativa de vida dos japoneses é a maior do mundo, ao que recorrente se atribui à qualidade da dieta (saudável) e a razões genéticas. Mas, e a incidência de fatores de ordem psicológica? Questionou: Não seria TAMBÉM um vetor de qualidade de vida importante? A pesquisadora cogitou a possibilidade desses fatores serem, em conjunto, uma vantagem. Ela denominou esse aspecto de DIMENSÃO PSICOLÓGICA.
Antes de morar no Japão por seis meses, a dra. Levy visitou a sua avó na Flórida e relatou um episódio importância que vou transcrever, com as devidas aspas.
“Vovó Horty era uma jogadora de golfe competitiva e, como ex-nova-iorquina, adorava uma caminhada, por isso não foi fácil acompanhá-la enquanto andava pela loja com passos decididos — até tomar um tombo e cair no chão. Corri para ajudá-la a se levantar e fiquei horrorizada ao ver um corte sangrento na perna dela.” (Levy, 2022, p.5)
Ao sair do estabelecimento, a sua vó reclamou e recebeu uma resposta tão grosseira como acusativa.
“Bem, talvez a senhora não devesse estar andando por aí”, respondeu friamente. ‘Não é minha culpa que os velhos caiam o tempo todo. Então não tente me culpar.’”(Levy, 2022, p.6)
Essa passagem revela e ressalta como a sociedade baseia a sua representação acerca do envelhecimento, tratando-o como experiência única marcada pela fragilidade e pelo adoecimento, em total desatenção à pessoa, independentemente de sua real condição.
A neta a levou ao médico para a avaliação e cuidado. Percebeu que após o episódio, a sua avó a pediu para realizar tarefas que antes fazia questão de fazer. Segundo a autora, a cada pedido tinha a impressão que ela revivia as duras (em minha interpretação, extremamente violentas) palavras do dono da mercearia.
A todo momento as pessoas idosas têm a sua condição física e mental questionadas, as suas habilidades e competências desafiadas. Para além do questionamento, determinam onde devem estar e como devem se apresentar e agir nas diferentes situações, retirando-lhe a autonomia da própria vida.
Justificam esse repertório de “recomendações” capacitistas como cuidado e prevenção, embora produza na prática reações do tipo: insegurança, medo (do envelhecimento), autosugestionamento, desesperança, tristeza, angústia etc.
As palavras operam como dardos que podem carregar mensagens positivas ou negativas. Essas palavras podem afetar atitudes e comportamentos. Não subestime a força dos estereótipos negativos da idade! Não estou desvalorizando as iniciativas de afeto, cuidado e atenção mas, a promoção das imagens negativas acerca do processo de envelhecimento. Envelhecemos de modo diferente. Temos direito a um envelhecimento saudável, psicologicamente confortável e feliz. Estereótipos machucam, inibem, condicionam, adoecem.
Vivendo no Japão, a autora sentiu a diferença de imagens culturais e tratamento, afirmando: “Os japoneses tratavam a velhice como algo para desfrutar, uma parte de estar vivo, e não como algo a temer ou amargurar.” (Levy, 2022, p.7)
A autora concluiu, a partir de sua experiência no Japão, que o meio em que vivemos é TAMBÉM determinante do modo como envelhecemos.
Cada etapa da vida deve ser llida como natural e valiosa.
Somos frequentemente turbinados por estereótipos da idade (obsolescência sexual, irritabilidade, fadiga, labilidade emocional etc). Esses estereótipos atingem em cheio aspectos naturais de cada fase.
As comparações foram inevitáveis, fazendo – a perguntar em que medida a cultura influenciaria a visão individual acerca da idade. Essas visões impactam o processo de envelhecimento? Quais os estereótipos culturais da idade? Essa é a temática abordada no livro.
Seus estudos encaminharam à conclusão de que as pessoas mais velhas que tinham uma visão mais positiva da idade e do processo de envelhecimento apresentaram desempenho físico e cognitivo melhor do que aquelas que apresentaram uma percepção mais negativa.
O texto da autora é leve, delicado, instigante e didático. O grande legado da obra é o giro de pensamento. Durante a leitura, somos levados a refletir sobre a nossa experiência de envelhecimento e os bônus de cada transformação.
A autora tematiza a maneira como pensamos o envelhecimento e como as visões negativas da idade impactam em nossa saúde.
“Embora sejam desenvolvidos no âmbito cultural por centenas de anos e assimilados ao longo da vida dos indivíduos, esses estereótipos são de fato bem frágeis: podem ser erodidos, alterados e refeitos.” (Levy, 2022, p.9)
Pois é, precisamos tratar o processo de envelhecimento com responsabilidade, prioridade e naturalidade.
Tenham uma excelente leitura!🌻
Referência completa:
LEVY, Becca. A coragem de envelhecer: a ciência de viver mais e melhor. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2022.