Por Yumara Lúcia Vasconcelos
Uma mulher, recentemente aposentada, compartilhou comigo as suas expectativas da nova fase da vida. Bem, o seu depoimento, confesso, me surpreendeu positivamente. Segundo ela, a sua melhor expectativa era o ócio.
Não desejava mais trabalhar. Disse que adaptaria as suas necessidades à sua nova renda como aposentada. Argumentou que utilizaria o seu tempo para ler romances, assistir TV, passear, escutar música, viver a sua religião, se voluntariar em algumas ações altruístas, acordar tarde e dançar muito, redefinindo o significado de “tempo útil”. Completou: “Tempo útil é aquele que me serve e faz feliz, a mim e aos meus, não aquele que eu vendo por meio de meu trabalho.”
Uma colega indagou se essa atitude não seria um pouco egoísta. De pronto ela respondeu: “Bem, se me priorizar é ser egoísta, sim, tornei-me uma velha egoísta. E olha, não sinto culpa, apenas o cheirinho da liberdade.”
É muito comum escutarmos pessoas aposentadas desejarem manter-se em atividade profissional, ora para completar a renda, ora para ajudar filhos e netos, renunciando a sonhos e ao merecido ócio (na estrita acepção de quietação, da ausência de ocupação profissional). Segundo a recém aposentada: “Filhos bem criados, jornada concluída com sucesso, nova fase inaugurada!”
Destacou: “Criei os meus filhos para serem independentes e livres, assumindo as próprias responsabilidades e papéis. Respeitei o tempo deles. Eles devem respeitar o meu.”
Inquieta, a minha colega perguntou: “E se você adoecer?”, ao que ela retrucou: “Todos nós podemos adoecer em qualquer fase da vida. Eu quero olhar para trás e relembrar momentos felizes, sem o peso do cansaço e das preocupações. Quero me libertar. Quero viver meus afetos.”
Fiquei refletindo: Por que é tão difícil desconstruir as visões e expectativas negativas relativas à idade? Por que é tão difícil vislumbrar um futuro imediato sem doenças para as pessoas idosas?
O corpo em nossa sociedade é um produto e o envelhecimento, a sua desvalorização, uma experiência de interdições e perdas, muitas vezes, do comando da própria vida. Pois é, o ócio também é uma escolha digna.