Empreender no Brasil é, sem exagero, atravessar um campo minado. A carga tributária trabalhista, aliada à burocracia, insegurança jurídica e a um sistema ineficiente, transforma a jornada do empreender em um desafio arriscado, reservado apenas aos verdadeiramente corajosos. As chances de fracasso tendem a ser maiores que as de sucesso, e isso não por falta de esforço ou talento, mas por um ambiente hostil à atividade produtiva.
No imaginário popular – muitas vezes distorcido – o empresário brasileiro é sinônimo de riqueza e lucro fácil. Nada mais ilusório. É claro que existem exceções, mas a esmagadora maioria dos micro e pequenos empresários vive em constante luta para manter as portas abertas. São homens e mulheres que trabalham exaustivamente, enfrentando diariamente um mar revolto de concorrência desleal, obrigações fiscais sufocantes, sindicatos engessados e legislações trabalhistas que, em vez de proteger, prejudicam ambos os lados.
Empreender no Brasil é, talvez, a mais intensa e prática universidade de negócios do mundo – onde a graduação é obtida na dor, na tentativa e erro, e na resiliência de quem se recusa a desistir.
Em minha visão, temos um Estado que age contra quem realmente produz, gera emprego e movimenta a economia. A estrutura atual parece desenhada para sustentar uma elite política e burocrática que, em boa parte, legisla em causa própria, enquanto a população enfrenta serviços públicos precários, insegurança, e uma educação que não prepara para o futuro.
A carga tributária brasileira é uma colcha de retalhos mal costurada. Impostos se sobrepõem, multiplicam-se, muitas vezes se lógica ou transparência. E mesmo alimentando uma máquina pública inchada e ineficiente, o cidadão – seja ele empresário ou trabalhador – encontra inúmeras barreiras ao buscar apoio do próprio Estado.
Quem tenta recorrer a um benefício público é recebido com exigências desnecessárias, filas intermináveis e negativas veladas por burocracias. Se o empresário, ainda assim, vence as inúmeras etapas da peregrinação que é empreender no Brasil e finalmente consegue contratar, é então penalizado por uma legislação trabalhista antiquada e uma tributação que praticamente criminaliza o ato de gerar empregos. Como se não bastasse, o próprio trabalhador também é alvo de tributos que corroem seu poder de compra.
A realidade do trabalhador brasileiro é igualmente dura. Diferente dos países desenvolvidos, aqui se vende tempo por um salário fixo – muitas vezes insuficiente para atender às necessidades básicas. Em meio à crescente competitividade, exige-se cada vez mais: múltiplas habilidades, flexibilidade, alta produtividade e constante disponibilidade. Como um equilibrista em um picadeiro hostil, o trabalhador precisa se desdobrar para manter-se no jogo – ainda que o prêmio seja apenas sobreviver.
É revoltante constatar que um país tão rico em recursos naturais e potencial humano seja, ao mesmo tempo, um dos que mais impõe barreiras ao desenvolvimento de sua própria população.
O acesso a uma alimentação de qualidade, por exemplo, deveria ser básico – mas virou luxo. Me pergunto: como um pai de família assalariado consegue manter o orçamento no azul diante de preços tão elevados? No Brasil, comer bem é privilégio. Nos Estados Unidos, por exemplo, um único dia de trabalho é o suficiente para garantir as compras do mês – com produtos de qualidade.
O Brasil parece caminhar na contramão da lógica: penaliza o trabalhador honesto, sufoca o empreendedor, e sustenta um máquina que entrega pouco – ou quase nada – em troca. É urgente repensar o modelo. Caso contrário, continuaremos sendo o país onde quem trabalha é punido, e quem tenta gerar empregos é desestimulado.
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