Por Mariana Mello
Estudar gerontologia e cultura de envelhecimento pode ser um pouco inquietante. Se por um lado aprendemos que envelhecer é uma conquista e que a maturidade foi feita para ser saboreada, por outro nos deparamos com perguntas difíceis de responder. Questionamentos que nos obrigam a pensar no que temos feito da vida.
Um deles é a que dá título à coluna de hoje: quem vai cuidar de você? A resposta que sempre ouço – provavelmente você já ouviu de familiares e amigos – é: “Nunca vou depender de ninguém”.
Não sei em que momento da história da humanidade criou-se essa ideia da autossuficiência, da total autonomia e da independência no sentido de ninguém precisar de ninguém. Se você acredita nisso, lamento dizer: sempre precisaremos de outro ser humano. Se quando nascemos demandamos ser cuidados, agasalhados, alimentados e protegidos, nas décadas avançadas é que não será diferente.
Já comentei isso outras vezes. Por sermos humanos, todos carregamos, ao longo da vida, doses de fragilidade e dependência. Ao nascermos, exigimos cuidados por muito tempo. Na vida adulta, por estarmos no auge do desempenho físico e mental, temos a impressão de que somos inabaláveis. No caminho para a longevidade, podemos experimentar alguns declínios que fazem parte da vida. Geralmente, nesse período nos damos conta de que precisamos, e muito, do outro.
Saber disso o quanto antes, mesmo que você tenha 20 ou 30 anos, muda a percepção a respeito de algo fundamental na vida. Sabe quem vai cuidar de você? Seus afetos. Os amores e relações verdadeiras que cultivou durante toda a vida. As pessoas para as quais você fez a diferença. Pessoas que foram inspiradas ou que aprenderam algo com você.
E veja que interessante: não serão necessariamente filhos, cônjuges nem familiares. Um amigo meu, que optou por não ter filhos, sempre diz com seu humor ácido: “Filho não é plano de previdência”.
Olhar para as relações dessa forma, hoje, enquanto estamos vivos e conscientes, pode fazer uma diferença enorme lá na frente. Não podemos prever o futuro, não sabemos quem irá segurar a nossa mão em uma fase difícil. Mas podemos tecer histórias belíssimas agora. Dedico este texto às minhas três grandes amigas, Cecília, Iara e Lívia. Se tudo der certo, moraremos perto, iremos às consultas médicas umas com as outras e perpetuaremos nossas piadas internas de sempre.