Segundo Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food: “A cozinha, a despeito de quem decreta sua morte, é a principal fonte de alimentação, identidade e perpetuação para uma cultura constituída por milhares de pessoas que repetem os mesmos atos e se comunicam umas com as outras. Não importa a distância entre elas, cozinhar é repetir atos, combinar ingredientes, criar variações; é o espaço compartilhado da memória, da identidade e do afeto”.
A cozinha, ou o hábito de cozinhar e preparar as refeições, agrega ao indivíduo saúde, sabor, conversa, resgate de memórias afetivas, gustativas e olfativas e as habilidades culinárias têm efeitos positivos sobre a cognição.
Estudos recentes têm demonstrado que assim como a música para a pessoa idosa, as atividades culinárias e tudo que está contido nelas, promovem benefícios na memória, empatia, socialização, linguagem, cognição e qualidade de vida.
Os idosos, assim como qualquer indivíduo, não devem buscar apenas satisfazer as necessidades fisiológicas com suas refeições, tão importante quanto, é a satisfação psicológica, emocional, social e cultural porque comer é um ato biopsicosociocultural. Vários podem ser os fatores que afastam a pessoa idosa desse cenário, como por exemplo: depressão, solidão, dificuldades motoras e cognitivas. Dessa forma a manutenção ao longo da vida do preparo das refeições para si, assim como para familiares ou amigos, pode ter efeito preventivo e positivo bem como a manutenção da saúde física e psicológica.
A cozinha é por muitos considerada o “coração” de uma casa e nela acontecem momentos importantes ao longo da vida como encontros, conversas, trocas de experiências entre gerações, como a passagem de receitas de família entre avós e netos. O preparo de uma refeição para um dia especial, por exemplo, pode ser responsável por anos de uma memória afetiva que a cada vez que for acessada trará consigo uma enorme carga de emoções positivas.
Memórias são construídas a partir de experiências emocionais e a cozinha é uma grande aliada. A emoção é um grande facilitador da memória, assim rever, reviver e compartilhar estes momentos evoca lembranças felizes do passado trazendo inúmeros benefícios sobre a saúde da pessoa idosa.
Giane B. Sprada, PhD
Professora do Curso de Nutrição/UFPR
Coordenadora do projeto de extensão “A Nossa Comida”