Recentemente, lendo o livro do jornalista Rafael Tonon sobre o nosso atual sistema alimentar, me deparei com um capítulo que falava sobre a “nova tendência” de jovens comerem sozinhos. Por estarem sozinhos, compartilhavam este momento pela internet com milhões de desconhecidos.
É um movimento forte, principalmente na Coréia do Sul, onde lares de uma pessoa só já são padrão no país, assim como restaurantes com mesas de apenas uma cadeira.
Como escreve a pesquisadora Bee Wilson: “comer sozinho não apenas mudou enormemente como e o que comemos, mas também como conversamos sobre nossa alimentação.”
Dividir o momento, tanto do preparo quanto da refeição, é um ritual humano universal que nos define como seres sociais, e atende à nossa necessidade fundamental de conexão.
O que e como se come nos núcleos familiares são influências importantes na construção de hábitos que se iniciam na infância, através do processo da socialização alimentar. O exemplo e as histórias alimentares de pais, avós, parentes, ou qualquer que seja o formato familiar, têm efeito positivo na construção de uma relação saudável com a comida e, consequentemente, na prevenção de doenças.
Pesquisas recentes alertam que, ao realizar refeições sozinhos, homens tem até 45% mais chance de desenvolver obesidade, e 64% de síndrome metabólica, que envolve hipertensão, diabetes e doença cardiovascular.
Por isso é importante que a pessoa idosa, que vive só, preste atenção e se cuide pois, tem pouca vontade de cozinhar para si, por vários motivos. Ter o paladar e olfato alterados pela idade, além da perda de apetite, pode levar à perda do hábito de compartilhar a refeição, intensificando o isolamento, e possivelmente levando ou agravando um quadro de depressão. Esse comportamento pode e deve ser evitado.
Convidar netos, filhos, sobrinhos, vizinhos, amigos e até ajudantes, de vez em quando, a sentar à mesa com você e, se possível, preparar uma refeição com uma história para contar junto é um movimento importante para evitar estes problemas. Uma atitude simples, que faz a vida mais saudável e alegre. Afinal, a tal tendência do “sozinho mas online” com milhares de desconhecidos, só demonstra o quão importante é compartilhar a vida.