Por Yumara Lúcia Vasconcelos 

Há alguns meses decidi iniciar a minha transição capilar, de cabelos tingidos para grisalhos. Desde então outras mulheres (tingidas) me perguntam acerca dos motivos para deixá-los crescer sem retoques na raiz.  

Embora seja cada vez mais comum encontrarmos mulheres com seus cabelos prateadas, percebo que o fato ainda inquieta outras mulheres. Talvez não seja uma inquietação mas, não sei definir. A minha única certeza é que eu ficava muito incomodada. Eu me sentia em julgamento. Hoje não mais. 

O desconforto social que muitas de nós sentimos tem raízes mais profundas, apesar da superfície reluzente do argumento estético. Entendi que o meu  incômodo não decorria apenas da reação das pessoas ao  meu cabelo. Era também movido pela constatação que me corrompi pelo preconceito naturalizado. 

Somos ensinadas a esconder a idade, cobrir os cabelos brancos e a sentir aversão por corpos envelhecidos, ainda que esse corpo seja o nosso. 

Uma das mudanças que percebi em meu comportamento depois dos 50 anos foi a autoaceitação (de meu corpo envelhecido) e do resgate de quem sou (além da imagem no espelho). Essa reconexão me fez um bem enorme. Passei a me olhar com mais frequência, todavia,  com generosidade, profundidade e prioridade. 

Refleti sobre como o corpo da mulher é socialmente subjugado, assujeitado às regras de estética, cujo padrão é marcadamente preconceituoso. 

Quando passei a  pesquisar sobre etarismo senti o meu discurso enfraquecido ao pintar os cabelos. Avaliei a minha iniciativa  de pintá-los como vazia de um significado pessoal. As razões para pintá-los não eram verdadeiramente minhas. Nunca foram. Pois é, o autopreconceito (autoetarismo) me tomou de assalto e eu me reonheci nesse lugar (oprimida).  

A conduta confere propriedade ao discurso. 

Bem, superei o autopreconceito e sigo em significativa transição capilar, ansiosa para desfilar com o meu natural cabelo prateado, tingindo apenas de liberdade, maturidade e autoamor. 

 

Yumara Lúcia Vasconcelos é pós doutora em Direitos humanos (UFPE- Universidade Federal de Pernambuco), doutora em Administração (UFBA- Universidade Federal da Bahia), mestre em Ciências Contábeis (Fundação Visconde de Cairu), bacharela em Direito e Ciências Contábeis. Especialidades na área jurídica: Direito civil e em Filosofia e Teoria do Direito.